MEMORIALALMAMEMORIAL ALMA


quarta-feira, janeiro 21, 2015

A RUA DA MINHA INFÂNCIA

Rua da minha infância
Quanta saudade deixou em mim
Dos quintais enormes

Dos pomares, das hortas
Desse amor sem fim

Das hortênsias, rosas, dálias
Da calçada de pedra, do sabiá
Do cheiro de terra molhada
Do velho pé de manacá...

Rua da minha infância 
Onde no passado tanto andei
De poeira, lama, pedras antigas
Onde tantas vezes brinquei
A pedra grande na calçada
Onde sentávamos a noite
História e estória contada
Pela avó Iaiá tão amada...

Quanta saudade eu sinto da rua da minha infância
Das brincadeiras traquinas
Das alegres vozes de crianças 
Na casa velha da esquina...

Quanta saudade eu sinto da rua da minha infância
De andar livre
Correndo, sorrindo, chorando, cantando
Colegas, amigos e primos
Todos se respeitando...

Quanta saudade eu sinto da rua da minha infância
As casas acolhedoras, tia Cirila na janela
A comida árabe de Regina de Samuel
O jardim florido de Dita com a sempre-viva amarela

Quanta saudade eu sinto da rua da minha infância
Onde nasci, brinquei, sorri, chorei
De onde fui embora e não mais voltei...
Ah minha rua, na minha memória o passado voltou
Meu coração despertou
Rua querida da minha infância 
Na antiga calçada de pedra 
Nem o meu nome ficou...

Rua da minha infância 
Hoje seu cenário mudou, tão diferente, eu sei, é o progresso
A saudade em mim reverencia a rua onde tantas vezes eu sorri
Rua querida da minha infância
Que pena que eu cresci.

Carmen Castro Mariz - 2004
Rua Visconde de Porto Seguro - Formosa - GO

quarta-feira, agosto 21, 2013



MEMORIALALMAMEMORIALALMA



 "Quando trazemos à tona nossas memórias afetivas estamos elaborando e compreendendo experiências carregadas de afetos do nosso passado e que se depositaram, no fundo da alma, sendo dolorosas ou não fazem parte da edificação do nosso ser". 

 O manacá faz parte da minha história, aliás, não só da minha, mas de tantos outros, pessoas anônimas ou não. Certa vez, li sobre Tarsila do Amaral e sua predileção por essa planta, onde ela relembra com saudade os seus passeios realizados no interior de Minas Gerais. Posteriormente, ela utilizou em seus trabalhos as cores de suas flores em telas como Manacá e outros. A flor do manacá tem o seguinte ciclo: nasce roxo escuro, depois adquire um tom lilás e termina com o branco. Possui um agradável perfume. Resolvi plantá-lo em homenagem à minha avó. Decidi que fosse necessariamente um da mesma espécie daquele existente em sua casa (brunfelsia uniflora, manacá-de-cheiro ou manacá inglês) no interior de Goiás. Demorou muito tempo para realizar esse meu desejo, mas, a muda, presente de uma amiga querida, fez-me contente, ajudando-me a concretizar um sonho antigo. Hoje, o meu jardim possui oito pés de manacá. Todos os anos, apesar de ainda jovens, produzem um grande número de flores e atrai uma espécie de borboleta a qual me intrigava, mas também coloria e alegrava os espaços lúdicos da minha infância. Hoje, entendo o elo que há entre a planta e a borboleta e embora, perceba diariamente muitas folhas devoradas não interfiro na reciprocidade de ambos, calmamente observo a libertação do casulo e o voo livre da borboleta colorida a enfeitar o espaço aéreo do jardim. O manacá na abundância e singeleza de suas flores continua encantando os meus olhos e serenando meu espírito, como se fizesse entre mim e o infinito a ponte de encontro para os olhos da alma, acalentando as lembranças vivas na minha memória. O manacá tem embalado com perfume os dias amargos que permeia o meu viver telúrico e mostra-me no ciclo das cores de suas flores o ciclo da vida: o nascer, o viver e o morrer. Hoje, as suas flores enfeitam os lugares por onde ando... O seu significado para mim é de uma grandeza sem tamanho e vivê-lo em sua plenitude faz parte do meu caminhar onde tento administrar com humildade as minhas escolhas e o meu merecimento. 

 Cacá Manacá 2006 – Um ano de dor, de despedida, de reparação, de muito ajuste interior e, sobretudo, de muita aceitação.

A Rua da Minha Infância




Ofereço a você com afeto, uma flor de manacá!!!

terça-feira, dezembro 06, 2011

quinta-feira, setembro 22, 2011

Nino, o predador

Nino, o predador

Nino está feliz. Recuperou o peso e está gordinho de apertar. Cresceu o pelo. Corre e brinca por toda a casa (nas poucas horas diárias em que se mantém acordado). Esfrega-se tanto no Trilogia de Nova York do Auster que penso que deseja comê-lo. Faz o mesmo com as violetas. Chamo-o pelo nome para oferecer-lhe algum carinho e ele nem move a cabeça. Só se aproxima depois de um tempo de pausa e, quando finalmente atende ao chamado, disfarça ao cheirar uma pequena formiga, ou algo insignificante pelo caminho. Deixa claro, dessa forma, que não atende ordens. Quando é o contrário, faz tudo para ser notado. Sobe no teclado, ajeita-se entre mim e o monitor, mia em vários tons. Nesta semana, torturou uma lagartixa. Ele a perseguiu como se fosse um brinquedo, até que ela expirasse. Nosso bichinho de pelúcia, não passa de um felino predador, pensei. Fiquei desapontada e dei-lhe conselhos. Contei-lhe a história do filhote Zumbi, da Carmem, que foi adotado pela gata Nina que o amamenta com farta produção de leite, mesmo sendo castrada. Ele ignorou e me lançou aquele olhar doce, amoroso. Perdoei tudo.

Heloisa Capel,http://templodeatena.blogspot.com/

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(Este post é dedicado à Maria do Carmo de Castro Teixeira. Ela tem uma alma nobre, tecida de sensibilidade, de beleza e do amor pela vida das plantas e dos animais).